sábado, 16 de fevereiro de 2008

As Letras e seu herói - A litentitária Identitura



A História nos mostra que toda grande nação ocidental– ou pelo menos todas aquelas que aspiram a grandeza ocidental – precisa ser consagradas por meio de três elementos autênticos: uma língua própria, grandes monumentos e um herói nacional. Os três marcam a identidade de um povo, fazem a publicidade de uma nação e tornam os ideais desta reconhecíveis internacionalmente.

A Itália tem Garibaldi como herói, a língua italiana, e o Coliseu e a Torre de Pisa como monumentos. Os EUA priorizaram a língua de seus ancestrais ingleses, mas a deixaram mais despojada; ergueram a Casa Branca, o Pentágono e a Estátua da Liberdade e elegeram as figuras do caubói e do combatente como heróis. A França tem seu francês impecável, a torre Eiffel, o Arco do Triunfo e a avenida Champs-Élysées, e Joana D’arc como a grande heroína.

Ta, mas pur cá di quê to dizendo isso? Para falar da extrema intimidade entre a literatura brasileira e a formação de nossa identidade, visto que, no Brasil, tinha de ser diferente. É certo que nossa nação sagrou-se com uma língua, com um grande herói e com um grande monumento também, contudo os três elementos foram legitimados por meio da Literatura.

A nossa língua foi imposta a partir dos trabalhos dos jesuítas e depois com os intelectuais que iam estudar na Europa e, assim como nos EUA, pouco restou de traços das línguas indígenas e das línguas africanas na fala de um povo, aqui minoritariamente branco. O nosso grande herói foi o índio romântico, forte, corajoso, sábio como o homem branco e selvagem, conforme nos foi apresentado em O Guarani. E, o nosso grande monumento é a natureza, imponente, grandiosa, tropical, exuberante, assustadora, fértil e rica, comentada logo na carta de Pero Vaz de Caminha e que permeia nossa música, sendo essencial no sustento de nossa mais nova maravilha do mundo moderno: o Cristo Redentor, que se não fosse erguido no alto do morro do Corcovado, não teria a mesma imponência.

Aliás, apenas a partir do fim do sécullo XIX e início do século XX, foi que ganhamos um monumento artificial, humanamente construído, baseado na arquitetura – primeiro com a urbanização das grandes cidades, depois com a projeção de Brasília.

Mas aí já era tarde: as palmeiras (que nem brasileiras são), os coqueiros-que-dão-coco-e-matam-a-sede, a onça, o mico, tudo caiu no gosto tupiniquim e marcou nossa identidade pra sempre.

Pena que as nossas matas estão sendo destruídas na mesma proporção da industrialização e da massificação de nossa sociedade. E da mesma forma que a imagem vai desvalorizando as palavras.

Ironicamente, estamos perdendo nossa identidade

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