sábado, 16 de fevereiro de 2008

As Letras e seu herói - Dar a Otávio o que era de César


Todo mundo só exalta Júlio César, amor de Cleópatra, belo, inteligente...uhum...

Façamos justiça ao imperador Otávio Augusto, que pra mim foi o mais competente (se é que posso falar assim de tiranos). Ele entrou no segundo triunvirato (república formada por 3 governantes), em que derrubou Marco Antônio e Lépido, deixando os dois se matarem sozinhos. Otávio ficou só no poder, conseguiu trazer pra si o apoio dos magistrados (formado por censores, edis, questores e ditadores) e do senado (a aristocracia), acabou com a banca de Cleópatra e ainda se auto-intitulou:

Imperador (que significa ‘General Vitorioso’), Princeps (significa ‘primeiro cidadão, pois dirigia o senado), Pontífice Máximo (‘chefe religioso’) e Augusto (‘sagrado’).

O cara era mais P.I.M.P. que o Snoopy Dogg.

Achou pouco? Tem mais: ele coroou-se prefeito de um pretório (um milícia), ou seja, tinha um exército só pra ele; e também escolheu Roma como morada oficial do governo porque lá tinha o maior n° de escravos e de massa descontente (ele queria estar por perto pra ‘meter o cacete’ em quem se revoltasse contra ele).

E se não bastasse, foi ainda ele quem rebaixou o senado a um poder secundário (situação presente ainda hoje em nossas vidas). Ele fazia questão de controlar pessoalmente o cofre estatal (vai que alguém fizesse um caixa-dois básico ou perdoasse dívida de impostos de algum devedor do governo por meio de suborno? Ele estava lá para impedir e sugar tudo o que tinha de direito).

Foi o único governo romano inabalável economicamente. Também... com 6 impostos diferentes e acumulativos pra cobrar! — um cobrado a todos os maiores de 18 anos, um sobre o uso do solo, um sobre o uso de minas em solo romano, um pra quem era dono de terra ou de porto, um sobre as heranças e mais um sobre as vendas. — E a gente ainda reclama da nossa carga tributária...

Calma, não cansa de ler não! Ele ainda foi o cara que dividiu a sociedade romana em três classes sociais: a classe senatorial (formada por quem tinha mais de 1 milhão de sestércios – uma quantidade de moedas – e ocupava os melhores cargos públicos), a classe eqüestre (ocupada pelos ‘novos ricos’, a plebe que subiu na vida, geralmente por bons serviços prestados no exército ou durante a mudança de república pra império), e a classe inferior (a gentalha, por assim dizer). Foi justamente por causa dessa divisão que ele fez geral ficar revoltado, levar os ricos a cortejarem os pobres e, com isso, derrubar o seu império.

Mas Otávio não foi só coisa ruim. A propósito do outro tópico escrito aqui, “A litentitária Identitura”, venho falar dele como ‘criador’ do termo mecenas.

Otávio queria imortalizar seu governo na história da humanidade – puf! óbvio – e, pra isso, ele escolheria estátuas de mármore? Não! Um brasão colorido? Não! Uma pirâmide enooorme? Nãã!... Que isso, foi coisa muito melhor! Ô! Foram as Letras – claro – como o instrumento perpetuador.

Com a ajuda de um de seus conselheiros, o tal Mecenas, ele começou a patrocinar artistas e, sobretudo, grandes escritores que pudessem eternizar a cultura da época (falar da grandiosa arquitetura e da religião romana). E assim mecenas estendeu seu significado e passou a designar quem, na Idade Média, através da Igreja Católica, gastava sua fortuna adorando as artes e valorizando o sagrado.

Graças à humildade de Otávio em aceitar o conselho de seu braço-direito, é que foi possível existir Michelangelos (que sem a ajuda financeira da Igreja não teriam como fazer suas obras maravilhosas) e tantos manuscritos (como as iluminuras) importantíssimos para a humanidade.

Coincidência ou não, a Igreja, que controlava os textos históricos, aceitou colocar na biografia de Otávio o fato de que seu governo foi intitulado “Pax Romana” (paz romana), ou o “Século de Augusto”. E também o fato de ele ter obtido a Apoteose (o mesmo lugar que os deuses romanos ocupavam) quando morreu.

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